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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

"Coma a minha maçã"

 - Ei vovô! Você pode me contar como perdeu a sua virgindade? É para um trabalho que estou fazendo.
- Que isso moleque! Eu não sou nenhum doente pra falar sobre esse tipo de coisa com criança!
- Criança?! Eu tenho vinte anos. Você estava na minha festa de aniversário três meses atrás!
- Eu estava? Meu Deus, como a vida passa rápido. Eu ainda te vejo como aquele garotinho que trazia meus Marlboros e uma cerveja bem gelada todos os dias.
- Eu nunca fiz isso vovô.
-Não? Que estranho, não sei quem era então.
- Você pode por favor me contar a história?
- É claro, é claro. Mas já vou avisando, é uma história pesada de que não me orgulho...
                                                               . . .
Me lembro perfeitamente daquele dia. O dia em que eu achei que o meu pulmão iria sair do meu peito e que meus olhos nunca mais se abririam de tão fortemente fechados para não ver, mas eu via como se não os tivesse fechado nem por um segundo. Os olhos não veem nada, é o cérebro que enxerga. E o meu estava programado para ver e sentir tudo aquilo. Sentir medo. Y otras cozitas más.

Era o meu 18º aniversário, meus amigos haviam feito uma festa surpresa para comemorá-lo na casa de um outro amigo meu, Cláudio (seus pais estavam viajando e a casa era grande, com pátio e piscina). Eles se encarregaram de tudo: Bebidas, decoração, música. Estava sendo uma das melhores festas que eu já estivera. Eles provavelmente tinham planejado tudo meticulosamente e por muito tempo. Jason - um dos meus melhores amigos - sempre dizia que eu teria a melhor festa de 18 anos que um homem pode querer.

Eu era o mais novo de todos os meus amigos, na verdade eu era o caçula de toda a minha turma. Entrei adiantado no colégio, faço aniversário em dezembro e ingressei de primeira na faculdade. Bebi como nunca. Misturei todos os tipos de bebidas que tinha na festa: vodka, whisky, cerveja, tequila, sake, leite achocolatado, água, refrigerante, listerine. Na metade da festa percebi que misturar achocolatado com refrigerante foi uma ideia ruim que me levou a passar mal. Eu me lembro de vomitar muito por todo o quarto dos pais de Cláudio - um vômito azedo que as vezes tinha que ser limpado dos meus lábios, pois ficava pendurado como se fosse um chiclete puxado.

Quando terminei de pintar as paredes de tons amarelos esbranquiçados e vomitar o resto de bile que me sobrara meus amigos bateram na porta do quarto procurando por mim. Eu esperei até eles saírem de perto do quarto, então destranquei a porta e saí rapidamente de lá. Até hoje, sessenta e oito anos após essa festa ainda não descobriram quem vomitou no quarto. Quando encontrei Jason no pátio, ele me abraçou - completamente bêbado - e disse que ele tinham um presente especial para mim. Abri um sorriso e já desconfiava o que era.

Entrei no Impala SS 65 - era um lindo carro zero quilômetros e havia sido comprado a poucas semanas dos pais de Cláudio enquanto Jason dirigia. Não sei como não morremos naquela noite, Jason dirigia como se estivéssemos em uma montanha russa. Finalmente chegamos ao que ele dizia ser o "Lugar da Felicidade'' e vomitei mais um pouco quando vi que um cachorro dilacerado estava preso no para-choque do Chevrolet. Aquele cachorro deu trabalho, a gente teve que usar um pequeno machado e cortar pedaço por pedaço  pra tirá-lo. Eu acabei dando uma machadada no carro que me custou 3 semanas de trabalho duro no restaurante dos pais do Cláudio...

O "Lugar da Felicidade" era um muquifo que tinha fedor de sebo (na minha época chamávamos de queijo ralado) e tinha quartos com prostitutas de todos os tipos: Magras, gordas, altas, baixas, bonitas, feias. Eu sabia o que iria acontecer naquela noite. Entramos no prostíbulo e então Jason olhou para mim e disse: "Entre naquele quarto Luís, tem uma mulher esperando por você. Feliz aniversário". Me lembro de agradecer Jason e lhe dar um grande abraço. Me lembro de suar de ansiedade enquanto caminhava em direção a porta 21.

Ao adentar no quarto senti meu coração parando e um arrepio na espinha vindo de baixo até a minha nuca. Eu não conseguia me mover, estava paralisado. Só conseguia sentir medo do que via. A prostituta que Jason havia pagado para mim e que agora estava parada na minha frente era uma bruxa! Mas não qualquer bruxa, era a bruxa que havia tentado matar com uma maça envenenada a menina mais bonita da cidade. Ela era horrorosa, fedia, era suja, velha e tinha uma voz que fazia meus pelos se arrepiarem. Ela tirou seu vestido preto e rasgado e começou a me beijar. Eu senti uma mistura de medo e nojo enquanto ela fazia isso, mas então ela tirou as minhas calças e começou a fazer, bem...você deve saber o que é... de um jeito muito bom - acredito que era por que ela era praticamente banguela. Depois aconteceu. Fizemos de tudo e para a minha surpresa foi bom.
 Porém, nove meses depois daquele meu aniversário, ela bateu na minha porta com o seu pai nas mãos dizendo que era o meu filho. Eu fiquei espantado com a notícia até porque eu achava que ela era velha demais para ficar grávida, por isso nem tinha usado camisinha e me arrependo disso. Mas não me arrependo por ter engravidado ela, até porque o seu pai foi um bom filho. Me arrependo de ter pego gonorreia dela. E assim foi a minha primeira vez meu jovem.
                                                              . . .
- Então eu sou neto de uma bruxa?
- Claro que não. Mãe é quem cria e quem criou o seu pai foi sua falecida avó Dosolina, que Deus a tenha.
- Como eu só fiquei sabendo disso agora? Meu pai nunca disse nada sobre isso.
- Ele não sabe. Você quer que seu pai fique triste? Quer que ele saiba que ele é fruto de uma transa suada e pegajosa de um menino de dezoito anos com uma velha mais feia que a Regina Casé disfarçada de Preta Gil?
- Não, mas ele tem o direito de saber...
- Ele não tem o direito de nada. Já teve sorte de não ter sido abortado, pois se aquela assombração tivesse me dito que estava grávida antes eu teria lhe dado um chute na barriga com bastante força. Então seu pai nunca teria nascido e nem você. Portanto pare de reclamar, seu bebê chorão, e vá me trazer uns cigarros como antigamente.
- Sim, vovô.

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