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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mamãe Mammon

Bernardo Froener Castello

Diana está com frio e dorme muito mal já fazem algumas semanas. Ela deita na cama enquanto sua mãe a cobre com cobertores que não alteram seu frio. Vai fazer uma semana que Di está doente, uma semana sem trazer dinheiro para casa. Isso significa que logo não terão mais o que comer. Lú e Lê brincam timidamente na cama ao lado, suas irmãs gêmeas têm oito anos e ainda não recebem clientes no quarto. Bem que poderiam ter uns três anos a mais. Quando começou a receber clientes da mãe, Di tinha apenas onze anos - nem parece que já se passaram dez.
Bernardo é o caçula da família com sete anos recém feitos. Bê só pensa em comida, come de tudo o máximo que consegue - o que não era muito, ultimamente. Quando percebe que sua irmã está tremendo de frio na cama ao lado, ele propõe uma troca: um de seus cobertores pelo resto do jantar da irmã - que estava sendo servido na cama havia algum tempo. Di aceita. Ele, então, larga o prato e seus talheres no criado-mudo entre as duas camas e lhe passa um de seus cobertores. Porém, o cobertor ainda não é o suficiente para ela. Letícia protesta e pede um cobertor a Bê, ele nega. A inveja a consome como de costume. Ela sempre quis ter o que os irmãos tinham.
Faz alguns dias que os pesadelos começaram e na noite passada Di acordou seus irmãos com gritos de terror. Está sofrendo com paralisia do sono quase todas as noites desde que adoeceu. Ela fecha os olhos e lembra como foi o dia. Lembra como todos levantaram cedo para ir a igreja, o crucifixo de ferro que ganhou do padre, o medo que sentiu na última noite, os demônios.
Luciana, sempre com ar de superioridade, brinca com a irmã doente:
- Se eles voltarem, hoje você acaba com eles. Eu acabaria.
A noite é silenciosa até começar a chuva. Di acorda rodeada por eles, não sabe quantos são exatamente, mas o horror toma conta do seu corpo. Ela fica estática. É impossível respirar. Eles se aproximam cada vez mais. Sua respiração volta, muito rápida. Seu corpo começa a responder aos impulsos do cérebro, mas os vultos agora tomam forma, são dêmonios novamente, e continuam a se aproximar tocando-a.
Ela grita, mas seus irmãos nem se movem. Di segura o crucifixo com força enquanto estica o braço para pegar os talheres do prato do Bê. Ela, então, crava o garfo na face de uma das criaturas que surpreendentemente cai no chão. Cria coragem e ataca, com o crucifixo e a faca, golpes rápidos, mas recheados com toda a pouca força que restava no corpo de Di. Sai vitoriosa e como prêmio pisa com toda a força no garfo que pendia no globo ocular do primeiro a cair.
No mesmo momento em que ela pisa no garfo a porta se abre. Sua mãe carrega um lampião que ilumina a cena. Horrorizada com a chacina, grita em prantos: - Bê, Lú, Lê! O que você fez com eles Diana?
Di se volta para ela empunhando a cruz de ferro que havia ganhado de manhã.
- Então eu matei Belzebu, Lúcifer e Leviatã? Qual o seu nome Demônio?
- Eu sou quem deu vida ao Diabo.

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