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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Ralo de lembranças

Tiro as roupas, entro no box, ligo o chuveiro no mais quente, abaixo a cabeça. Sinto a transição da agua gelada para a muito quente, do jeito que você gosta. Uma música toca ao fundo. O sabonete cai no chão, prefiro ficar por ali mesmo, acocado, de um jeito que a água bata em minha nuca e escorra por todo meu corpo. Assisto o ralo levar a água atentamente. Começo a pensar se ainda se lembra de mim. Sim. Se ainda me ama. Não. Se quer jogar comigo. Talvez.
Fecho os olhos me lembrando de uma cena que não vivi. Você e seus novos amigos em uma mesa de bar. Começa a falar de seus antigos relacionamentos. Conta como foi cada um? Abro um dos olhos. Dá detalhes? Abro o outro. Como eles acabaram? Respiro.
Eu sei as respostas. Olho para o lado, pego o shampoo roxo. E seus amigos, o que falam quando termina de falar? Ta tudo bem agora. Esse cara era um babaca. Ele nunca te mereceu. Ponho shampoo na mão. Consigo ouvir eles pensando: "Hum a Olhinhos bonitos está solteira". Começo a esfregar o shampoo, primeiro devagar. Quero estar na mesa, quero perguntar pra você se já contou pra esses seus novos amigos que eles não te conhecem como eu. Depois rápido. Ninguém conhece. Enxáguo a cabeça.
Volto a encarar o ralo. Saudade.
Fecho o registro. Quem sabe um dia eu volte a chorar com você.
Enquanto isso, o ralo é um bom amigo. 


terça-feira, 15 de março de 2016

As tristezas de um homem das cavernas

E enquanto vejo tudo cair ao meu redor, penso em coisas que já ouvi e outras que eu queria ter ouvido. Mas quanto mais continuo meu caminho, mais vejo que não tem o que fazer com minha caverna. Não têm como reformá-la, nela não bate sol, não bate amor. Eu tentei todos os dias, mas todos os dias ela gostava menos de mim como morador. Eu queria ficar, apesar de todos os seus problemas. Eu ia consertar, tábua por tábua ia construir uma mansão. E construí. Mas ela nunca quis ser desse tamanho.

Agora falta pouco pra desabar e eu vou sair com todas essas lembranças. E a caverna que era minha vai deixar saudade. Quem sabe um dia volte como um homem diferente e ela como um abrigo diferente. Então tudo vai ser como antigamente, quando eu era o seu homem.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mamãe Mammon

Bernardo Froener Castello

Diana está com frio e dorme muito mal já fazem algumas semanas. Ela deita na cama enquanto sua mãe a cobre com cobertores que não alteram seu frio. Vai fazer uma semana que Di está doente, uma semana sem trazer dinheiro para casa. Isso significa que logo não terão mais o que comer. Lú e Lê brincam timidamente na cama ao lado, suas irmãs gêmeas têm oito anos e ainda não recebem clientes no quarto. Bem que poderiam ter uns três anos a mais. Quando começou a receber clientes da mãe, Di tinha apenas onze anos - nem parece que já se passaram dez.
Bernardo é o caçula da família com sete anos recém feitos. Bê só pensa em comida, come de tudo o máximo que consegue - o que não era muito, ultimamente. Quando percebe que sua irmã está tremendo de frio na cama ao lado, ele propõe uma troca: um de seus cobertores pelo resto do jantar da irmã - que estava sendo servido na cama havia algum tempo. Di aceita. Ele, então, larga o prato e seus talheres no criado-mudo entre as duas camas e lhe passa um de seus cobertores. Porém, o cobertor ainda não é o suficiente para ela. Letícia protesta e pede um cobertor a Bê, ele nega. A inveja a consome como de costume. Ela sempre quis ter o que os irmãos tinham.
Faz alguns dias que os pesadelos começaram e na noite passada Di acordou seus irmãos com gritos de terror. Está sofrendo com paralisia do sono quase todas as noites desde que adoeceu. Ela fecha os olhos e lembra como foi o dia. Lembra como todos levantaram cedo para ir a igreja, o crucifixo de ferro que ganhou do padre, o medo que sentiu na última noite, os demônios.
Luciana, sempre com ar de superioridade, brinca com a irmã doente:
- Se eles voltarem, hoje você acaba com eles. Eu acabaria.
A noite é silenciosa até começar a chuva. Di acorda rodeada por eles, não sabe quantos são exatamente, mas o horror toma conta do seu corpo. Ela fica estática. É impossível respirar. Eles se aproximam cada vez mais. Sua respiração volta, muito rápida. Seu corpo começa a responder aos impulsos do cérebro, mas os vultos agora tomam forma, são dêmonios novamente, e continuam a se aproximar tocando-a.
Ela grita, mas seus irmãos nem se movem. Di segura o crucifixo com força enquanto estica o braço para pegar os talheres do prato do Bê. Ela, então, crava o garfo na face de uma das criaturas que surpreendentemente cai no chão. Cria coragem e ataca, com o crucifixo e a faca, golpes rápidos, mas recheados com toda a pouca força que restava no corpo de Di. Sai vitoriosa e como prêmio pisa com toda a força no garfo que pendia no globo ocular do primeiro a cair.
No mesmo momento em que ela pisa no garfo a porta se abre. Sua mãe carrega um lampião que ilumina a cena. Horrorizada com a chacina, grita em prantos: - Bê, Lú, Lê! O que você fez com eles Diana?
Di se volta para ela empunhando a cruz de ferro que havia ganhado de manhã.
- Então eu matei Belzebu, Lúcifer e Leviatã? Qual o seu nome Demônio?
- Eu sou quem deu vida ao Diabo.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sexto setido


Régis acorda as 6:30 da manhã, ele dorme mal já faz muito tempo. Olha pela janela do quarto, o dia está cinzento como sempre. Esse tempo nunca ajuda. Se senta na lateral da cama, se sentindo acorrentado a ela. Toma os seus remédios matinais. "Não fazem mais efeito", ele pensa. Se levanta vagarosamente enquanto passa a mão na cara, barba comprida já faz dias. Não conseguia se lembrar da última vez que tinha ficado verdadeiramente feliz, o máximo que chegava era uma puxada de bochecha aqui ou ali, que não chegava a ser um sorriso.
Olha para seu lado, sua esposa está no outro lado da cama, de costas para ele, abraçada no travesseiro. "Deixe-a dormir, hoje deve ser seu dia de folga" ele reflete. Se veste e então se dirige para a cozinha, também sem pressa. Então consegue escutar passos na escada, olha para trás e reconhece seu filho. Arthur, 6 anos, tinha olhos claros, como a mãe, os cabelos castanhos, uma cara redonda, apesar de ser muito magro.
O menino fala, ainda sonolento:
"Papai, você já vai sair de novo? Eu estou com saudade"
"O papai precisa ir filho, você ficará bem com a sua mãe"
"Ela também sente saudade. Ela me diz sempre"
 Régis então dá um beijo na cabeça do seu pequeno filho e diz após um longo suspiro:
"O papai tem que voar filho"
"Como é papai? Voar?"
"Um dia você saberá filho"
Então eles se abraçam, o pequeno Arthur se dirige de volta para a cama. Régis fita seu filho subindo as escadas. "Como estava crescido, quando foi que ele ficou parecendo um homenzinho?".
Olhando para a cozinha, tão limpa, arrumada. A pia era de granito negro, ele se lembra quando escolheu-a para a cozinha. A pia contrastava com sua pele, excessivamente branca. Ele então percebe que não está com fome, nem sede. Olha para o relógio da cozinha, 7:00 horas. É hora de sair.
Mesmo assim, ele passa no quarto de Vânia, sua esposa, lhe dá um beijo na bochecha que é retribuído com um gemido grave e sonolento. Logo depois passa no quarto de Arthur e dá o mesmo beijo que dera em Vânia. O garoto abre os olhos devagar e diz baixinho:
 "Eu te amo pai"
"Eu também te amo filho, cuide bem da sua mãe"
O menino fecha os olhos, quando os abre, alguns segundos, depois seu pai não estava mais no quarto. Uma lágrima solitária sai do canto do olho do menino, após poucos minutos de reflexão, ele corre escadas a baixo, torcendo para ver seu pai sentado na poltrona como antigamente. Tarde demais, seu pai já tinha partido.
Alguns poucos minutos depois Régis chegava ao aeroporto para mais uma viajem, sua escala mostrava: Brasil-Portugal, Portugal-Alemanha, Alemanha-China, China-EUA. Só veria sua família depois de duas semanas no mínimo. Depois que começou a trabalhar nas linhas internacionais da empresa aérea - por mais que ele ganhasse mais do que nas linhas nacionais -, Régis se sentia mal, se sentia preso, se sentia morto.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

 Encontros culturais

1985, sexta-feira a tarde, Oscar toma banho. Se perfuma ainda de toalha na cintura. Penteia seus cabelos. Vai para o quarto, joga a toalha em cima da cama. Liga o toca-discos com o vinil "Songs of the Big Chair", está bem no começo da faixa B3. "Head Over Hills" começa a tomar conta do quarto, o volume é máximo. Poe uma camiseta estampada com a bandeira dos estados unidos. Veste a coeca rapidamente, por ser muito elástica e seu tecido muito fino, rasga. Ele tira a rasgada e troca, dessa vez cuidadosamente, por uma nova, cor de laranja. Veste, então, uma calça CLOCHARD, camisa-xadres, sapatos pretos de couro e um casaco grosso. Faz frio em Porto Alegre. Se olha no espelho. Ele está pronto.
     Sai do quarto, agora ao som de "Listen". Seus pais estão sentados na sala, ao lado da lareira, assistindo à televisão. Oscar pergunta:
" Ainda tem grapa aí pai ?"
"Tem sim guri. Tu vai beber aqui em casa ou vai pro bolicho ? "
" Só vou dar uma molhada no bico e vou passar na casa da Maria"
A mãe se intromete na conversa.
" Não acredito que tu vai atrás daquela guria. Eu sei que vocês são amigos a muito tempo, mas aquela japiraca é pior que a moça da novela "
" Que novela ?"
" Ti ti ti "
" Sei, é a nova novela né? Não sabia que vocês olhavam"
O pai então responde:
" Eu não olho nada disso guri, é tua mãe que olha. Faz dois favores pro teu véio e vai lá na cozinha pegar lenha pro fogo e um copo de  Jurupiga que eu trouxe de Rio Grande "
Depois de beber um copo de grapa e fazer os favores para seu pai - não nessa ordem, é claro -, ele se despede deles, volta para o quarto, desliga o toca-discos - que a tempo não estava tocando nenhuma música - e sai de casa. Agradece aos céus por morar perto da Avenida Protásio Alves e aborda um taxi que está passando por ela.
" Ali pra praça Menino Deus sabe? "
O taxista só mexe com a cabeça para frente e para trás. Aumenta o volume do rádio, Paralamas do Sucesso. E quando Oscar sai do taxi faz questão de ver o paralama do fusca que o trouxe até ali.
Enquanto atravessa a praça Oscar tenta formular um plano para não estragar a noite com Maria, mas só consegue pensar no refrão de "Head Over Hills". Ele toca a campainha e sente como se o mundo estivesse em câmera lenta quando Maria abre a porta. Vestido branco e longo repleto de bolinhas azuis que combinavam com os seus olhos, usava uma meia-calça escura, um casaco de pele de coelho que ia até seus joelhos, os cabelos arrumados, as unhas pintadas de um branco quase transparente e sapatinhos azuis de salto baixo.
Ele ficou paralisado e Maria perguntou:
" Eu estou bonita? "
Oscar ainda estonteado pela perfeição de Maria, para e presta atenção em um som que vem de dentro da casa. E então ela pergunta se ele conhecia "Tears for Fears". A noite então fica quente como nunca.

Bernardo Froener Castello

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

"Coma a minha maçã"

 - Ei vovô! Você pode me contar como perdeu a sua virgindade? É para um trabalho que estou fazendo.
- Que isso moleque! Eu não sou nenhum doente pra falar sobre esse tipo de coisa com criança!
- Criança?! Eu tenho vinte anos. Você estava na minha festa de aniversário três meses atrás!
- Eu estava? Meu Deus, como a vida passa rápido. Eu ainda te vejo como aquele garotinho que trazia meus Marlboros e uma cerveja bem gelada todos os dias.
- Eu nunca fiz isso vovô.
-Não? Que estranho, não sei quem era então.
- Você pode por favor me contar a história?
- É claro, é claro. Mas já vou avisando, é uma história pesada de que não me orgulho...
                                                               . . .
Me lembro perfeitamente daquele dia. O dia em que eu achei que o meu pulmão iria sair do meu peito e que meus olhos nunca mais se abririam de tão fortemente fechados para não ver, mas eu via como se não os tivesse fechado nem por um segundo. Os olhos não veem nada, é o cérebro que enxerga. E o meu estava programado para ver e sentir tudo aquilo. Sentir medo. Y otras cozitas más.

Era o meu 18º aniversário, meus amigos haviam feito uma festa surpresa para comemorá-lo na casa de um outro amigo meu, Cláudio (seus pais estavam viajando e a casa era grande, com pátio e piscina). Eles se encarregaram de tudo: Bebidas, decoração, música. Estava sendo uma das melhores festas que eu já estivera. Eles provavelmente tinham planejado tudo meticulosamente e por muito tempo. Jason - um dos meus melhores amigos - sempre dizia que eu teria a melhor festa de 18 anos que um homem pode querer.

Eu era o mais novo de todos os meus amigos, na verdade eu era o caçula de toda a minha turma. Entrei adiantado no colégio, faço aniversário em dezembro e ingressei de primeira na faculdade. Bebi como nunca. Misturei todos os tipos de bebidas que tinha na festa: vodka, whisky, cerveja, tequila, sake, leite achocolatado, água, refrigerante, listerine. Na metade da festa percebi que misturar achocolatado com refrigerante foi uma ideia ruim que me levou a passar mal. Eu me lembro de vomitar muito por todo o quarto dos pais de Cláudio - um vômito azedo que as vezes tinha que ser limpado dos meus lábios, pois ficava pendurado como se fosse um chiclete puxado.

Quando terminei de pintar as paredes de tons amarelos esbranquiçados e vomitar o resto de bile que me sobrara meus amigos bateram na porta do quarto procurando por mim. Eu esperei até eles saírem de perto do quarto, então destranquei a porta e saí rapidamente de lá. Até hoje, sessenta e oito anos após essa festa ainda não descobriram quem vomitou no quarto. Quando encontrei Jason no pátio, ele me abraçou - completamente bêbado - e disse que ele tinham um presente especial para mim. Abri um sorriso e já desconfiava o que era.

Entrei no Impala SS 65 - era um lindo carro zero quilômetros e havia sido comprado a poucas semanas dos pais de Cláudio enquanto Jason dirigia. Não sei como não morremos naquela noite, Jason dirigia como se estivéssemos em uma montanha russa. Finalmente chegamos ao que ele dizia ser o "Lugar da Felicidade'' e vomitei mais um pouco quando vi que um cachorro dilacerado estava preso no para-choque do Chevrolet. Aquele cachorro deu trabalho, a gente teve que usar um pequeno machado e cortar pedaço por pedaço  pra tirá-lo. Eu acabei dando uma machadada no carro que me custou 3 semanas de trabalho duro no restaurante dos pais do Cláudio...

O "Lugar da Felicidade" era um muquifo que tinha fedor de sebo (na minha época chamávamos de queijo ralado) e tinha quartos com prostitutas de todos os tipos: Magras, gordas, altas, baixas, bonitas, feias. Eu sabia o que iria acontecer naquela noite. Entramos no prostíbulo e então Jason olhou para mim e disse: "Entre naquele quarto Luís, tem uma mulher esperando por você. Feliz aniversário". Me lembro de agradecer Jason e lhe dar um grande abraço. Me lembro de suar de ansiedade enquanto caminhava em direção a porta 21.

Ao adentar no quarto senti meu coração parando e um arrepio na espinha vindo de baixo até a minha nuca. Eu não conseguia me mover, estava paralisado. Só conseguia sentir medo do que via. A prostituta que Jason havia pagado para mim e que agora estava parada na minha frente era uma bruxa! Mas não qualquer bruxa, era a bruxa que havia tentado matar com uma maça envenenada a menina mais bonita da cidade. Ela era horrorosa, fedia, era suja, velha e tinha uma voz que fazia meus pelos se arrepiarem. Ela tirou seu vestido preto e rasgado e começou a me beijar. Eu senti uma mistura de medo e nojo enquanto ela fazia isso, mas então ela tirou as minhas calças e começou a fazer, bem...você deve saber o que é... de um jeito muito bom - acredito que era por que ela era praticamente banguela. Depois aconteceu. Fizemos de tudo e para a minha surpresa foi bom.
 Porém, nove meses depois daquele meu aniversário, ela bateu na minha porta com o seu pai nas mãos dizendo que era o meu filho. Eu fiquei espantado com a notícia até porque eu achava que ela era velha demais para ficar grávida, por isso nem tinha usado camisinha e me arrependo disso. Mas não me arrependo por ter engravidado ela, até porque o seu pai foi um bom filho. Me arrependo de ter pego gonorreia dela. E assim foi a minha primeira vez meu jovem.
                                                              . . .
- Então eu sou neto de uma bruxa?
- Claro que não. Mãe é quem cria e quem criou o seu pai foi sua falecida avó Dosolina, que Deus a tenha.
- Como eu só fiquei sabendo disso agora? Meu pai nunca disse nada sobre isso.
- Ele não sabe. Você quer que seu pai fique triste? Quer que ele saiba que ele é fruto de uma transa suada e pegajosa de um menino de dezoito anos com uma velha mais feia que a Regina Casé disfarçada de Preta Gil?
- Não, mas ele tem o direito de saber...
- Ele não tem o direito de nada. Já teve sorte de não ter sido abortado, pois se aquela assombração tivesse me dito que estava grávida antes eu teria lhe dado um chute na barriga com bastante força. Então seu pai nunca teria nascido e nem você. Portanto pare de reclamar, seu bebê chorão, e vá me trazer uns cigarros como antigamente.
- Sim, vovô.

Depois de um dia muito puxado na firma a Sra. Lontrosa chegou em sua casa e viu que seu lixo não havia sido recolhido naquele dia. Ela primeiramente ficou irritada mais buscou energias para se acalmar e pensou com sigo mesmo:
- Esse zelador é um incompetente FILHO DA PUTA.
Ainda com um fio de raiva ardente por ter que ficar com chorume na sua área de convivência, a Sra.Lontrosa caminha até a frente de sua porta, e à encontra totalmente empoeirada e suja com cocô e mijo de cachorro. Vendo a situação ela logo pensa:
- Que porra é essa? Quem é que cagou na frente da minha porta? Bosta de cachorro!!! A única pessoa que tem cachorro aqui no prédio é Zelalontro. Aquele desgraçado...
Então com sangue nos olhos ela se dirige a casa do zelador Zelalontro.
Entretanto, quando esta chegando à porta, ela pisa em um carrinho de brinquedo do filho do zelador, deixando com uma imensa dor nas costas. A ambulância vem correndo para resgata-la.
Já no hospital, o médico pergunta:
-  O que aconteceu Sra.?
-  Eu escorreguei. – fala a Sra.Lontra, ainda remoendo a raiva pelo zelador.
-  Você deve se cuidar mais! É muito perigoso cair desse jeito, você pode bater a cabeça e morrer! – ele diz.
Então o Zelalontro aparece no corredor em uma cadeira de rodas, ele avista a senhora lontra e diz em um tom muito humilde:
- Me desculpe senhora, eu pedi para o meu filho te avisar que eu estava muito doente e que não poderia exercer meu trabalho hoje. Mas parece que ele não avisou. Perdão pelo acidente também, já mandei o Lontréricson guardar seus carrinhos depois de brincar.
Ela então assentiu, e continuou remoendo a raiva por dentro enquanto o médico dizia que o Zelalontro entraria de alta amanhã junto com a Sra.Lontrosa.
Ela então passou uma noite inteira em claro, pensando em um jeito de dar o troco. Até que enfim pensou em algo que ensinaria uma lição aquele zelador preguiçoso.
No dia seguinte os dois saíram do hospital juntos, era uma quarta-feira de manhã, mas Dona Lontrosa não foi trabalhar, ela foi direto para casa enquanto pensava na melhor maneira de efetuar a sua ideia. Para lontras, a vingança é algo que se come requentado um dia depois.
                                                                                 . . .
Quinta-feira, o dia estava ensolarado e muito quente. Ela então dá um “oi” para o seu zelador e então pergunta como quem não quer nada:
- Só por curiosidade que horas o seu filho volta da escola? – pergunta ela com muita naturalidade.
-  Bom, ele costuma voltar ao meio dia, mas já é 2h da tarde e ele ainda não chegou...
- Ah! Não se preocupe! Você sabe como são essas crianças de hoje em dia! Venha para dentro e vamos tomar um cafezinho. – ela diz isso já empurrando o homem para dentro de casa.
Chegando na cozinha o homem se senta na cadeira e relaxa um pouco.
- O seu café é com leite e açúcar? – pergunta a dona com um sorrisinho na cara.
- É sim senhora. Muito obrigado! – recebendo o café em uma xícara grande.
Os dois bebem todo o café. E o zelador vai ficando cada vez mais cansado e sonolento, até que ele desmaia.
                                                                           . . .
- Aonde eu estou? – fala o Zelalontro ainda bem atordoado.
- Que bom! Você acordou não estávamos mais aguentando ver você dormir. – diz a senhora Lontrosa.
-Por que eu estou amarrado? – ele pergunta com um ar de desespero.
- Você não sabe? Já vai saber... – diz ela.
Quando Zelalontro pisca com força os olhos ele consegue ver Lontréricson amarrado e amordaçado.
- O QUE VOCÊ ESTA FAZENDO COM O LONTRÉRICSON!! – Ele grita com desespero.
Ela não diz nada, só se vira e liga um liquidificador na tomada.
- Foi você que pediu por isso senhor zelador. – mostrando fotos de como o lixo não havia sido tirado e que havia bosta de cachorro na frente de sua porta – Agora você vai aprender uma lição.
Ela pega a criança, que fica se debatendo. Ela retira a fita da boca de Lontréricson bem devagar. Ele então grita:
- PAPAI! ME SALVA!
Mas nesse meio tempo a Sra. Lontrosa aperta o botão do eletrodoméstico e joga o filho do zelador lá, fazendo uma espécie de milk-shake vermelho. O zelador grita de desespero.
- Para de gritar! Têm mais. Você não ia aprender uma lição só com isso.
Ela então pega uma garrafa cheia de chorume (que havia coletado no dia que tinha saído do hospital) e outra com a bosta do cachorro (que ela havia coletado no mesmo dia) e adiciona ao liquidificador. Bate por mais algum tempo e diz:
- Prontinho!! Pode beber.
Ela então bate com uma chave inglesa na boca do zelador até que ele não consiga mais fechar sua boca. Então derrama o combinado (filho, chorume, bosta) na boca do Zelalontro até ele quase se afogar na mistura.
Depois de ter bebido tudo ela pergunta com uma voz amável e compreensiva:
- E aí? Aprendeu a lição?
Ele assente. E depois daquele dia ele nunca mais faltou no trabalho.





                                            Agradecimentos ao Daniel Burghardt, que ele seja uma Lontra bem cheirosa e vitoriosa.

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